Quem é você?
Não há performance possível onde não há identidade
Mayra Menddeos
5/8/20252 min read
Quem é você?
Ontem, em uma reunião aparentemente comum, fui confrontada com uma pergunta não verbalizada, mas urgente: Quem é esse ser humano diante de mim? E mais: Em que ponto de sua história ele se perdeu de si mesmo?
Enquanto ouvia sua fala, tentava mapear — como sempre faço — se havia ali espaço para meu trabalho atuar como um vetor de transformação. Mas, aos poucos, fui tomada por um misto de compaixão, tristeza e raiva. Um desconforto visceral. Vi materializado, ali, um fenômeno que a neurociência chama de desconexão identitária: quando o cérebro já não aciona mais a rota do "quem sou eu?", e opera apenas em função do externo — do automático — como descreve Daniel Kahneman, ganhador do Nobel, ao distinguir o Sistema 1 (rápido, impulsivo) do Sistema 2 (reflexivo e consciente).
Aquele homem era, aos quase 50 anos, uma bóia à deriva em um mar de decisões que nunca foram dele. Uma vida inteira vivida no modo sobrevivência. Sem clareza, sem propósito, sem sequer imaginar que poderia querer algo. Me lembrei de Viktor Frankl, que disse: “Quando a vida não tem sentido, o sofrimento se multiplica.” E sim, havia sofrimento ali. Mas não do corpo — da alma.
Naquele instante, eu soube: Não posso oferecer nada pra ele. Não seria honesto vender um método, uma organização de metas ou uma mentoria de performance quando o que ele realmente precisava era da reconstrução do próprio eu. Ele precisava de identidade. De fundamentos. De alma. E alma não se alinha com planilhas — ela se acende com verdade.
A Bíblia afirma em Provérbios 4:7: “A sabedoria é a coisa principal; adquire, pois, a sabedoria, sim, com tudo o que possuis adquire o entendimento.” E o entendimento começa com o conhecimento de si. O autoconhecimento é o único ponto de partida legítimo para qualquer jornada de alta performance. Sem isso, qualquer ferramenta vira distração — ou pior, enganação.
A raiva veio porque sei que ele já gastou dinheiro com promessas vazias. Pessoas que talvez tenham percebido o mesmo que eu, mas optaram por ignorar. Que preferiram não se meter “nesses pensamentos”. Pior: percebi que ele faria o mesmo com seus próprios futuros clientes. Porque quem não se conhece, não questiona. E quem não questiona, repete.
Houve um momento em que precisei me calar. Medir milimetricamente cada palavra para não destruir aquilo que talvez fosse o último fio de dignidade preservado naquele homem. Mas, por dentro, travava-se um embate feroz: entre a urgência de acordá-lo e a ética de não violentá-lo.
Conduzi como pude. Com firmeza gentil. Com esperança silenciosa. Talvez um feixe de luz tenha atravessado a escuridão daquela conversa. Escolhi não lucrar com a dor alheia. Escolhi respeitar um ser humano que ainda não sabe que é humano.
Afinal, não há performance possível onde não há identidade. E meu trabalho começa exatamente aí.
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